João Amaral Tomaz, antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,
afirma que "tem que ser Portugal a resolver os seus problemas" e que "o recurso a terceiros só se justifica se não formos capazes de nós próprios ultrapassarmos as dificuldades".
Ora bem:
1. Portugal está, há alguns meses, dependente dos financiamentos externos que consiga captar nos mercados ao preço que os credores decidirem ser razoável para compensar o risco que correm;
2. O Banco Central Europeu tem financiado a banca portuguesa, compensando o facto de as instituições financeiras nacionais não conseguirem captar recursos no mercado interbancário;
3. O Governo tem andado em visitas oficiais, sejam de Estado ou em"road shows" junto de potenciais investidores, para conseguir ajuda financeira sob a forma de compra de títulos de dívida pública portuguesa (sabe-se lá com que contrapartidas).
Posto isto, parece existirem duas evidências:
a) Portugal tem que resolver os seus problemas porque andar de chapéu na mão pelo Mundo fora não é solução de vida;
b) Pode não ser óbvio, o que não deixa de surpreender, mas a verdade é que Portugal já está há algum tempo a recorrer a terceiros precisamente porque não foi capaz, até agora, de evitar ou de resolver os seus problemas.
Para quem pensa como João Amaral Tomaz, o problema não está em pedir ajuda a terceiros mas em pedir ajuda a terceiros que ostentem a sigla FMI. Estão no seu direito. Mas, pelo menos, expliquem porquê.
O Governo controlou o défice público de 2008 à custa de receitas extraordinárias e falhou as metas de execução orçamental para 2009 e 2010. Com este pobre currículo, não devia haver dúvidas sobre quem tem as principais responsabilidades pelo facto de o preço a que os credores estão dispostos a emprestar dinheiro a Portugal esteja em subida.
Ainda assim, a tese mais recente para desculpabilizar a dupla José Sócrates-Fernando Teixeira dos Santos garante que a principal culpada pela situação é a chanceler alemã, Angela Merkel, por não querer que sejam apenas os contribuintes alemães, entre outros, a pagarem a factura pesada dos erros alheios. Incompetência na gestão dos dinheiros públicos é coisa que não falta em Portugal. E criatividade para inventar desculpas também não.