Sexta-feira, 16 de Novembro de 2012

Só faltava esta: o elogio da "ambição" dos bárbaros, pelo repórter do Público

 

 

 

Lê-se e não se acredita: "Os poucos manifestantes que permaneciam, ora de cócoras, ora de joelhos, a arrancar pedras da calçada em frente à Assembleia da República faziam-no com a ambição de um operário que gosta do seu trabalho."

 

É a entrada de uma "reportagem" com que me deparei no site do Público. O tom geral é este. Era mesmo o que faltava - o elogio do empenho dos bárbaros, com a chancela do que já foi um dos jornais de referência de Portugal.

 

A coisa prossegue: "Estabeleceu-se ali, a 15 metros do cordão policial, uma autêntica e espontânea linha de montagem, em que as pedras da calçada, prontamente arrancadas do chão, eram entregues a outros que as atiravam em direcção ao cordão policial e à Assembleia da República. Adequava-se a pergunta, com a dicção arrastada de Sérgio Godinho com José Mário Branco ao lado: “Que força é essa, que força essa, que trazes nos braços?”"

Bem sei que o Público já teve melhores dias. E digo-o com a amargura de quem começou a fazer jornalismo na redação do Público e sente, a cada edição, a decadência e o desnorte a que o jornal foi condenado por quem o dirige.

 

Apesar disso, nunca se está realmente à espera de ver, mesmo neste Público, tamanho desvelo de um "repórter" embevecido perante aquela rapaziada com "ambição de operário" em "autêntica e espontânea linha de montagem".

 

Como é que este texto me escapou na edição em papel?, questionei-me. E percebi depois que a "reportagem" foi publicada apenas online, não tendo chegado à edição em papel. Desconheço a razão. Mas oxalá tenha sido por vergonha.

publicado por Filipe Santos Costa às 13:31
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Segunda-feira, 17 de Setembro de 2012

Alguém no Governo se deu conta da manif de sábado?

 
Passaram mais de 24 horas sobre a manif de sábado. Não vale a pena perder muito tempo a tentar fazer contas para chegar a números que ninguém pode garantir, nem tão pouco adiantam o que quer que seja. 500 mil em Lisboa? 1 milhão no país? Mais? Menos?

 

Não é essa a questão: foi uma manifestação colossal, transversal como poucas que aconteceram neste país. Não, não foi coisa dos "privilegiados do sistema" ou de "quem nunca apoiou este governo", e quem julgue que sim não está a perceber nada, mas mesmo nada, do que se está a passar.

 

(Felizmente, na área de apoio ao Governo, há uma ou outra excepção a esta tendência para a negação ou o escapismo)

 

Foi exatamente o contrário disso, e esta manifestação vale pela sua dimensão, como pela sua transversalidade: juntou novos e velhos, radicais e moderados, privilegiados e remediados - todos com a certeza de que estão a caminho de serem mais pobres do que alguma vez foram - , como juntou gente que nunca votaria neste governo e vê reforçadas as suas razões, com gente que votou neste governo e gostaria de ter outra vez boas razões para o voltar a fazer.

 

Por todas estas razões, e outras que têm sido repetidas até à exaustão, a manifestação de sábado foi um dos acontecimentos mais importantes desde que este Governo tomou posse. Curiosamente, com uma única excepção, ninguém no Governo achou que o assunto merecesse um comentário, por breve ou lacónico que fosse. 

 

Estavam tão distraídos com o que se passava na assoalhada ao lado que não se deram conta do que se passava na rua?

publicado por Filipe Santos Costa às 10:31
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Quarta-feira, 1 de Abril de 2009

Mistérios da vida moderna

Em Londres, os manifestantes quebraram computadores e tentaram pegar fogo a cortinados nas instalações do Royal Bank of Scotland. Por que será que quando há manifestações associadas a um grande evento internacional, há sempre uns javardos que confundem protesto com delinquência? Estarão convencidos que os seus argumentos, se é que têm algum, ganham força se forem acompanhados de actos provocatórios destinados a arranjar vítimas das merecidas bastonadas da polícia?
publicado por João Cândido da Silva às 15:42
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